o caminho
Lembra-se de todas as caras.
Traziam o inverno ainda nas rugas mais fundas.
Sentava-se no muro do lameiro do tio Zé Tarola a morder uma palhita à espera de um companheiro que o ajudasse nas empresas aventureiras serra adiante. Ali podia controlar tudo. As velhas horrendas que berravam sempre que passavam por ele. Os homens carregados de molhos de erva às costas, com a gadanha a ampará-los. Aqueles que levavam os pequenos rebanhos para lá do rio. Os que botavam as vacas e as levavam num ritmo quase tão pachorrento como o dum cortejo religioso. As lavadeiras pontuais que esfregavam umas pedras que havia a descer para o rio. Todos. E olhava-lhes o rosto. Prendia-se-lhes no rosto até a um tu que queres rapaz que andas para aí a armar que o fazia evadir-se na palavra mais eficaz para o enunciador e menos fiável para o interlocutor: "Nada!"
A verdadeira liberdade vivia-se do outro lado do rio e, para ele, a ponte era um verdadeiro pesadelo porque deixava que todos pudessem passar para o lado de lá. Sem ponte apenas os mais valentes podiam chegar ao outro lado. Tinha até um plano para a botar abaixo quando fosse grande... Mas cresceu.
E ainda faz o caminho para o Corgo Longo... para não se esquecer. Ou para esquecer.
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